2003

O PIONEIRO

No raiar do século XXI chegaram às vitrines de Santa Cruz novos modelos de bicicletas. Quadro articulado oferecendo suspensão central além dos tradicionais amortecedores dianteiros. A novidade logo recebeu o codinome de canguru, visto que o ciclista passa a produzir movimentos verticais quando transita em terrenos irregulares. Vi uma delas na descida da Floriano, nas cores azul e amarela. Não resisti, negociei as parcelas e levei uma pra casa.
Meses depois, em pleno inverno de 2003, meu irmão José me convida para acompanhá-lo até a cidade litorânea de Rio Grande. Era a oportunidade para ampliar meus horizontes. Fui, na condição de levar a bicicleta desmontada no bagageiro. Partimos rumo ao sul em um tempo em que a BR-471 ia só até Encruzilhada do Sul. Dali descemos por uma poeirenta estrada até Amaral Ferrador. Almoçamos em São Lourenço. Chegando ao destino, ficamos hospedados na localidade de Carreiros, entrada da cidade. Ali montei a bike e nos dias seguintes fiz incursões por todos os pontos interessantes da cidade: centro, Museu Oceanográfico, Iate Clube etc. Deixei de conhecer a "cidade velha" porque me disseram ser perigosa. Noutro dia me estendi dos molhes até a praia do Cassino. Deveras me impressionou a quantidade de conchas espalhadas pela praia, assim como o tamanho delas. Desde então alimento a ideia de pedalar do Cassino até o Chuí pela orla para me deliciar com tanta coisa que o mar joga para a praia. Claro que isto só é possível no inverno ou logo em seguida. Depois os veranistas recolhem tudo. Na foto acima temos os Molhes da Barra em 21/06/2003

Em novembro do mesmo ano já estava novamente na estrada. Estava de férias e poderia me demorar. Peguei carona com o tio Vital até Pantano Grande. (Ele costumava ir até Passo da Cachoeira nos dias de finados). Ali fiquei uma noite hospedado na casa do colega servidor Cilomar Nogueira. Bicicleta novamente pronta, na segunda feira enquanto ele se deslocava para Santa Cruz para mais um dia de trabalho, eu parti para o leste num percurso de 2:20h até Minas do Leão. Foi meu primeiro pedal na BR-290 ao que passei a admirar a mesma pela larga faixa de acostamento. Em Minas mora meu pai e tios. Fiquei ali alguns dias de sorte que fui até as instalações da Mina Leão II, onde anos atrás meu pai trabalhou de zelador. Convenci o vigilante a me permitir ir até a boca da mina e ele mesmo me fotografou. Isto aconteceu no dia quatro de novembro.

Para retornar a Santa Cruz, escolhi a região carbonífera: Butiá e São Jerônimo. Segui pela BR-290 até o Km 162. Dali segue um atalho não pavimentado até São Jerônimo. Me detive na ponte em arco na divisa com General Câmara, fotografei e segui para o almoço. Nesta época eu estava com menos de 60kg devido à intolerância a lactose. Passei o resto da tarde em Santo Amaro, uma antiga vila portuguesa. Nesta feita surgiu o gosto pelo cicloturismo histórico. Também fui conhecer a barragem de Santo Amaro e saber como funciona a Eclusa. O museu português estava fechado e a antiga Igreja iria ser restaurada. Fiquei hospedado no Hotel Coqueiros. No dia 11 foi o meu retorno para Santa Cruz. Na verdade eu já conhecia esta rota. No ano de 2000, havia ido de bike até General Câmara, eu e o Abel Isaque da Silva. Foto acima, Max Bruns em 11/11/2013.
Retornando a narrativa, saí antes do nascer do sol e cheguei em minha cidade por volta das 13:30. Não parei para almoço, apenas para hidratar e merendas leves. Peguei muito sol na estrada e sofri bastante. Antes de Vale Verde, dobrei a esquerda, passei por Buraco Fundo, depois João Rodrigues, Max Bruns, Capela dos Cunha e Cerro Alegre Baixo.
Alguns dias depois fui a Farroupilha (de ônibus!) visitar o amigo Abel e mostrar as fotos da façanha e recordar a ocasião em que pedalamos juntos.